Mulher, 18 anos, Lisboa.
Sou jovem, feia, com um vazio enorme no peito, uma necessidade inconsolável de atenção, uma queda cliché para fazer da minha vida um drama.
Procuro Homem com coração, que me preencha, que me ame incondicionalmente, que não me contrarie, que corra atrás de mim.
Não procuro um Homem que fique. Procuro um Homem que fique apesar de tudo.
Se todos os anúncios de jornal fossem assim, ninguém se daria ao trabalho de ler os classificados.
As pessoas insistem em procurar, o que não se encontra em folhas de papel impressas. Desenham círculos a caneta vermelha, em volta de várias opções numa mesma folha. Mas o amor não é uma opção, porque não se escolhe, não é dado a escolher. O amor encontra-nos.
Mas as pessoas querem fingir que correm atrás do amor em páginas a preto e branco, só para dizer que sim, que correm, que procuram. Por dentro gritam que apenas não querem sentir-se sós. Não procuram amor, porque o amor não se procura, porque o amor não é assim que se encontra, porque o amor é a verdade de toda a mentira e os classificados são conjuntos de frases feitas.
Ninguém vai escrever no espaço " Encontre a sua cara-metade " da revista cor-de-rosa mais vendida, que é feio, carente, possessivo, ciumento, dramático, que quer alguém que o ame para sempre e que continue com ele apesar de tudo e para além de todos. Porque todas as pessoas sabem que frases não-feitas (sejamos realistas) não funcionam.
Actualmente, ninguém tem medo de perder alguém em especial, por uma razão especial, porque sentiria falta desse alguém especial. Isto, porque já ninguém é especial para alguém. Os homens são todos iguais para as mulheres. As mulheres são todas iguais para os homens. Por mais relações diferentes, com pessoas diferentes, em momentos diferentes, que uma pessoa (seja homem, seja mulher) tenha ao longo da sua vida, vão ser sempre todas iguais. As pessoas repetem-se porque à partida, as pessoas sempre que partem para uma nova relação, não fazem mais nada do que procurar o que não existia na relação anterior. Descobrem que ali também não existe, então partem para outra - e assim sucessivamente.
São todo um conjunto de sucessões, de substituições, de procura de algo que está dentro de nós à muito tempo. Mas dentro de nós dói mais procurar, do que dentro dos outros, ou dentro de algo que (julgamos que) criamos com os outros.
Vivemos a vida em repeat mode.
Carreguem no play e deixem a cassete rodar: mulher com vazio procura homem com coração.
Stop. Encontrei um homem só para mim! - e ofereceu-me um coração.
1 comentário:
tu sabes sempre tudo.
após ler este texto então...!
isto deixa gostinho de querer mais!
continua, amor, continua!
p.s. e aí vai Jojo na demanda pelo sucesso!!
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