Este blogue é dedicado a todos aqueles que estão apaixonados.





20090528

Apontamento #18


O equilíbrio entre duas pessoas nasce da reciprocidade de um sentimento que parte de dois pontos para se encontrar num centro, ninguém ama mais que ninguém mas não amamos o mesmo. O equilíbrio está em amarmos em conjunto.

Faz-me impressão,

amores à pressão.

Como uma cerveja tirada na hora, de meio litro, bem fresquinha, que ou bebemos de penalti ou morre a meio. Servida em copos de plástico, para beber e deitar fora. Na manhã seguinte é deles que o Bairro Alto está cheio.

E as pessoas são feitas de cevada.

20090519

Apontamento #17

A saudade é parte integrante do buraco negro de sentimentos que gera o amor.
Vivemos mal com ela, mas sem ela, não vivemos sequer.

20090517

Agarra-o.


"A cidade está deserta.
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte.
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura.
Ora amarga,ora doce.
Para nos lembrar que o amor é uma doença.
Quando nele julgamos ver a nossa cura. "


Ornatos Violeta



Escrevemos nomes nos passeios para toda a gente ver. Nas estradas, nas casas, nas ruas. Escrevemos o quanto amamos, o quanto estamos arrependidos e o quanto queremos o outro de volta. O seu nome espalhado pela cidade, ao abrigo dos milhares de pés que caminham sobre o chão, dos milhares de corpos que se roçam nas paredes.
Nós, sem rumo, que perdemos o chão, que abandonámos os escombros de um quarto vazio, deitamos o nosso coração ao largo, espalhamos o nosso amor pelos cantos da cidade na esperança de que vá ao encontro de quem perdemos. Para quem passa e vê as palavras escritas a tinta preta, o nome de alguém espalhado ao vento, dá-se ao trabalho de ler para depois poder chamar de ridículo. E tem razão, é.
Nesta demonstração escrita, reside o mais ridículo dos amores, o amor lamechas, enjoativo, que nos dá voltas ao estômago e nos dá sinal ao cérebro como sendo um amor errado. E é errado.
O amor para ser verdadeiro, tem de ser nosso, só nosso. E esse amor nosso, o mais puro dos amores, é o amor sujo, rasgado, dorido e negro, o amor que não contamos a ninguém, que não espalhamos pela cidade, o mais puro dos amores - escondemos.
Ridicularizamos o maior sentimento do mundo quando o espalhamos pela cidade em estúpidas demonstrações de amor, esse amor já não é nosso - passou a ser de toda a gente. E provavelmente, toda a gente o viu, por aí, espalhado por todo o lado, partilhado com o mundo, menos a pessoa a quem o dedicámos.

Não deites o amor ao mundo - se o amor é teu, agarra-o.

20090511

Acontece.

Corremos todos atrás da necessidade imensa de alguém. Não queremos ficar sozinhos, é um medo que nos persegue e do qual fugimos constantemente. Se perdemos uma pessoa, ou se nos sentimos ameaçados pelas dez chamadas não atendidas que lhe deixámos no telemóvel ou pelas trinta mensagens escritas às quais ela não respondeu em 24 horas, planeamos um novo futuro para nós. Fazemos esboços com o cérebro e calculamos mentalmente as pessoas mais próximas de nós com mais probabilidade de preencherem o vazio que se prevê, fazemos as contas, analisamos os prós - nunca os contras - e quando damos conta a pessoa que não nos atendeu o telemóvel já ligou de volta outras dez vezes e já esteve à nossa porta duas horas à espera. Foi-se embora e nem demos por isso, estávamos tão preocupados em planear um futuro sem ela que nem nos passou pela cabeça apostar num presente com ela - esperar. E no dia seguinte já temos uma fila de possíveis preenche-vazios atrás de nós, temos de os sacudir das nossas costas de tantos que são, correm também eles atrás de um preenche-vazios e corremos todos uns contra os outros à procura de encher o peito com o maior sentimento do mundo no mais curto espaço de tempo. Apaixonamo-nos num dia, em dois dias já distribuímos amo-te's como se fossem rebuçados e em três dias já é para sempre e já vamos casar. Ao fim de sete dias, uma semana inteirinha de paixão imensa e espectactivas elevadísssimas, caímos de cabeça e não sabemos porquê.
Procuramos constantemente no outro aquilo que o anterior não nos conseguiu dar, ou aquilo que não conseguimos receber. Precisamos de contacto diário, de ver para crer, de estar, de sentir,de saber. Os cinco sentidos sempre a funcionar, sempre a trabalhar para o propósito de aproveitarmos todos os momentos em que não estamos sozinhos. Não damos espaço, roubamos espaço ao outro e quando o sentimos a afastar-se, quando o telemóvel deixa de tocar, quando o outro deixa de atender, quando já ninguém bate à porta, entramos em pânico e vamos mais uma vez à procura de um preenche-vazios.

No fim, só queremos alguém a quem roubar espaço, espaço que preencha o vazio que criamos dentro de nós.
Sim, acontece.


Amo-te tanto quando não estás.

20090510

A vida inteira.

" I want to marry you. I want to have kids with you. I want to build us a house. I want to settle down and grow old with you. I want to die when I'm 110 years old, in your arms. I don't want 48 uninterrupted hours. I want a lifetime. "


A maior prova de amor que alguém nos pode dar é dizer-nos que quer ficar connosco - para sempre. Uma vida inteira. Dispensar o seu espaço, dispensar a única coisa que lhe pertence mesmo fugindo-lhe constantemente das mãos - a sua vida - partilhando-a connosco. Colocando-nos dentro dela, metaforica e literalmente. Ninguém quer ninguém apenas 24 horas por semana, mesmo que sejam relações de cama apenas 2 horas chegam. Ninguém conhece ninguém em 2 horas, mas nesses casos o objectivo não é conhecer. Ninguém conhece ninguém em 24 horas porque em 24 horas ninguém se dá a conhecer.
Porque será que todos os casais fazem um drama quando um convida o outro para se mudar para sua casa? Não é porque sim. É porque é a maior prova que qualquer relação pode sofrer: 24 horas sobre 24 horas a viver com a mesma pessoa, a dormir com ela, acordar com ela, comer com ela, constantemente a falar com ela, nem tempo temos de pensar nela porque ela está sempre lá. As pessoas têm medo, refugiam-se, fogem, acabam relações antes sequer de passarem por isto. Porque não sabem lidar com isso, melhor, não querem lidar com isso. Não suportam a ideia de poder vir a dizer à pessoa que supostamente amam e com a qual supostamente deviam viver felizes para sempre: Estou farto(a) de ti. É difícil, mas ultrapassa-se. E então, as pessoas vão-se embora antes sequer de provarem, nem fazem do mito realidade, vivem no mito apenas, vivem apenas pela teoria de tudo, mas no amor não há teoria e quem ama devia saber isso - mas não sabe. As pessoas não estão dispostas a partilhar nada, são egoístas, não dão tudo, não querem dar tudo porque têm medo de ficar sem nada e no final, ficam sozinhas. A vida inteira, porque não quiseram partilhar com alguém um bocado dessa sua vida. E vão chegar à morte de mãos cheias, cheias de tudo o que não quiseram dar.