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20100622

Apontamento #67

Gostava de ser uma joaninha para dormir na ponta dos teus dedos.

20100608

Sr. Presidente: faça o favor de engolir mais este sapo.

O casamento homossexual foi promulgado. E à moda de Eça de Queirós gritamos Hurra!
Agora só falta empurrar a hipocrisia dos portugueses mais um pouco para dentro do seu umbigo e pode ser que haja mais lares disponíveis para proteger as crianças do Estado.
A adopção por parte destes casais, agora legais aos olhos do nosso Presidente da República, seria um passo longo nesta demorada caminhada para a abertura da mentalidade desta sociedade amaldiçoada por Salazar.
Um dos argumentos contra esta possibilidade é o distúrbio psicológico que crianças adoptadas por um casal homossexual podem vir a sofrer devido ao facto de terem dois pais ou duas mães. E eu pergunto: porque não? Mais vale dois pais ou duas mães do que nenhum. Muitos psicólogos conservadores também juram a pés juntos que a relação homossexual dos pais vai influenciar a orientação sexual da criança adoptada, que terá tendência a copiar a orientação do casal. Mas já que estamos a recorrer a psicologia básica, gostava que esses grandes senhores explicassem então porque é que grande parte dos homossexuais foram criados no seio de famílias heterossexuais e decidiram fazer birra e não copiar os pais.
E mantendo o comboio da argumentação sobre carris, a ideia de que uma criança necessita das figuras materna e paterna presentes para crescer é passível de dúvida. Sendo o casamento uma instituição em decadência, cada vez é maior o número de divórcios entre casais com filhos e neste caso nem os pais, nem os psicólogos nem o Estado metem a colher entre o marido e a mulher em defesa do crescimento saudável das crianças! Para não falar das mães solteiras e pais solteiros: e é melhor mesmo não falar sobre eles visto que da boca do Estado não sai uma única palavra. 
Portugal está a rebentar pelas costuras de casos em que as crianças crescem gordas e mimadas com apenas um pai ou uma mãe e ninguém fala sobre isso, nenhum psicólogo vem opinar para o programa da Fátima Lopes e os divórcios e os pais que abandonam os filhos são tratados como casos raros.
E se as criancinhas adoptadas forem maltratadas na escola? E se forem excluídas e não tiverem amigos? E se crescerem para serem adultos coitadinhos? E se morrerem velhas e sozinhas? Tudo isto apenas pelo facto de terem sido amadas e acarinhadas por um casal homossexual quando ninguém queria saber delas? Realmente esta especulação sobre a vida inteira de uma criança apenas com base no facto de ter sido adoptada por um casal homossexual que lhe deu o que os pais biológicos não lhe quiseram dar é obra, mas não de arte. É obra de escárnio e maldizer. Ignorância, especulo eu. Também posso especular?
As crianças são más, isso toda a gente sabe. Para elas tudo é motivo de piada. Basta a mãe ser gorda, o pai ser preto ou o irmão ser fanhoso que há pano para mangas nos insultos possíveis! Ter pais homossexuais é apenas mais um motivo. E quem seríamos nós hoje se não tivessem gozado connosco na escola primária? Seríamos como o Sr. Cavaco Silva, sem ofensa.
A promulgação da adopção por parte de casais homossexuais não seria apenas uma nova lei. Seria uma chapada sem mão nas cabeças duras dos portugueses, outro sapo que custaria a engolir ao Presidente da República e o início de uma nova geração de crianças com uma mentalidade mais aberta e menos preconceituosa.
E já agora, Sr. Papa: a homofobia não é pecado? Aguardo ansiosamente uma resposta heterossexual. Eu e as criancinhas.




Trabalho para Técnica e Expressão do Português, Escola Superior de Comunicação Social