20080828
20080827
Não são precisas palavras.
O abecedário é preciso para tudo. É um conjunto de letras que formam palavras. Palavras que se escrevem, que se dizem, que se ouvem.
Para tudo é preciso um abecedário. Nós expressamo-nos através do abecedário. É por isso que "o que eu sinto, está aqui em abecedário".
Mas.
Para o amor não são precisas palavras.
O meu amor está aqui, sem que eu precise de o escrever.
20080823
Com o corpo, leva o coração.
Confundes-me.
Com a tua colher mágica pões-me a cabeça às voltas como se fosse um preparado instantâneo de bolo de chocolate,
só que em vez de chocolate usas o mais amargo dos doces - a realidade.
O meu sonho omite uma mentira de cinco letras à qual tu chamas verdade,
mas não uma verdade que inclui o "nós".
O realismo toca como música de fundo do meu sonho que fiz teu,
só que tu insistes em fugir do concerto que preparei para nós,
refugiando-te no canto mais escuro deste nosso-meu sonho no qual se cruzam a parede das memórias e a parede da dor.
A tua verdade não se destina a mim.
Gritas baixinho para que só o teu coração te possa ouvir:
"Será que mata, este tipo de dor?",
o meu coração responde ao teu:
"Tudo o que mata é amor."
e a cabeça pesa sobre os ombros de tão forte que é o pensamento de te perder.
Nos teus lábios abrem-se feridas,
fizeste-as abrir para que eu perdesse a vontade de te beijar.
Enganas-te.
Deixou de ser uma vontade, um capricho, um desejo.
Passou a ser um hábito, um vício, uma necessidade.
Contigo sinto que o céu desce mais um pouco,
como que se o puchasses para mais perto.
O que há entre nós deixou de se resumir a um "quero-te",
passou a ser um "necessito-te".
Engoliste a minha alma pela boca da primeira vez que os teus lábios tocaram os meus.
Ofereceste-me o teu sabor a provar de forma a eu pedir mais,
ingénuo - continuaste a dar-mo sem eu to pedir
e então roubei-te para mim, para o meu sonho.
Amordacei-te o sorriso como quem mata por um beijo,
de forma a esconder a minha própria dor.
Tão rápido passas de veneno a antídoto,
como de doença a cura
e eu ainda mais rápido me torno no teu fruto proibido,
o qual tu mesmo te proibes.
Soltas palavras que me cortam como facas
e silêncios que me fazem cicatrizes,
soltas-me pela boca quando dizes o que de mim não queres ouvir.
Desenhas o nosso mundo com o olhar e fá-lo de forma a não me magoar.
Tens medo da dor,
da minha dor.
Eu tentei ser feliz mas eu não consigo!
Num quarto fechado sem janelas ou varandas atiro-me do chão ao tecto,
sem parar,
sem parar,
sem parar.
Acorrento-me ao teu corpo numa paixão que nos queima por dentro,
procuro um infinito que contigo me fará feliz,
cem vezes mais do que o agora faz.
Agarro-te os pulsos e com as tuas mãos faço-te cortar a raiz da minha dor,
da nossa dor,
o (meu) coração.
Come-o com os dentes se quiseres,
há muito que ele te pertence a ti
e só a ti.
Não vês a cama a girar?
Não sentes o chão a fugir-te dos pés?
Com o corpo levas agora o coração.
2 de Janeiro de 2007
20080816
Norma Jean vs. Marilyn Monroe
Queria conquistar a América pela sua inteligência, mas as suas curvas falaram mais alto.
Norma Jean Baker, nome de baptismo, rapariga de cabelos encaracolados, castanhos, e feições inocentes, foi menina protótipo da concretização do american dream.
Hollywood engoliu-a, mas não em seco. Sem querer, querendo, viu a sua beleza prostituída. Com cabelo loiro e sinal pintado na face, abdicou de ser dona de si mesma - Norma Jean, para ser amante da América - Marilyn Monroe.
Apesar do seu primeiro casamento, tal como os seguintes, ter sido apunhalado pelo seu temperamento instável e perturbado, para Norma J. - trate-mo-la como ela gostaria de ter sido sempre tratada, foi Joe Dimaggio - o seu primeiro marido - o único do qual o seu coração nunca se separou, verdadeiramente.
Não se conseguiu prender a ninguém, pois ninguém a havia prendido a si, quando criança.
Entre diamantes, cinema, álcool, anti-depressivos, Frank Sinatra e J. F. Kennedy, sempre fora mal amada.
Perturbada pela dependência de medicamentos de que sofria e pela paranóia constante que a perseguia, vivia um medo obscuro de perder a única coisa que pensava que a salvaria de ser cuspida do american way of life: a sua sanidade mental.
Interessava-se por aprender, por ser ensinada, por realizar filmes e por ser reconhecida pelo seu talento, e não pelos seus seios, nem pela sua ampulheta figura. Mas nenhum homem lhe conseguia dar o que realmente precisava, pois todos viam Marilyn e a agradavam como se agrada a uma prostituta de luxo, quando na verdade, era Norma J. que procurava algo, saltando de amor em amor, de loucura em loucura, disfarçada de sex-symbol, de loira burra, que andava não só nos olhos, como também nas bocas de todos os homens.
Queria que gostassem dela pela sua cabeça e não pelo seu corpo. Mas ninguém conheceu Norma J. - a sua cabeça (se não - talvez - Joe Dimaggio, que antes de morrer disse: "Finalmente vou voltar a ver Marilyn."), o mundo conheceu apenas M. Monroe - o seu corpo.
De tanto querer matar Marilyn Monroe, acabou por morrer Norma Jean.
20080813
Apontamento #3
- Vamos falar sobre o tempo, a paisagem, as pessoas.
- Não vamos falar. Deixa-me só ficar a olhar para ti.
Eu só te quero a ti.
Porque me enches o peito. Não és (im-)perfeito. Roubas-me as palavras. Por todas as razões certas e erradas. Porque me fazes bater com a cabeça nas paredes - no literal conceito. Porque és o melhor de mim e ainda assim o meu pior defeito. Por tudo o que eu queria ser e não posso por causa de ti. Por seres assim, por fazeres o que queres de mim. Não me dás mau amor, dás-me o trabalho de te amar. Porque sim, por ter acertado em ti e não querer voltar a procurar. Enches-me de dor. Enganas-me, amor. Partes-me o coração. Porque não? Escolhi viver (-te) assim: amar é morrer em vez de matar. Há ir, não há voltar. Por todas as vezes que senti a tua falta. Por todas as vezes que me neguei para te afirmar. (Salta!) Por todas as vezes que saltei e caí. Por todas as razões erradas: eu só te quero a ti.
(Porque fazes-me esquecer do "eu": já não preciso de cuidar de, pensar em, correr atrás de, lembrar-me de, viver para - mim. Porque o meu dicionário parou na definição de "tu". E agora corremos os dois atrás do "nós".)
--
"eu : a entidade; a personalidade da pessoa que fala;
o ser humano considerado como ente consciente;
a consciência;
egoísmo"
"tu: a pessoa a quem se fala;
pronome que representa a existência de familiaridade"
"nós: pode desempenhar a função quer de sujeito, quer de complemento;
as nossas pessoas"
20080812
20080801
Mulher com VAZIO procura Homem com CORAÇÃO.
Mulher, 18 anos, Lisboa.
Sou jovem, feia, com um vazio enorme no peito, uma necessidade inconsolável de atenção, uma queda cliché para fazer da minha vida um drama.
Procuro Homem com coração, que me preencha, que me ame incondicionalmente, que não me contrarie, que corra atrás de mim.
Não procuro um Homem que fique. Procuro um Homem que fique apesar de tudo.
Se todos os anúncios de jornal fossem assim, ninguém se daria ao trabalho de ler os classificados.
As pessoas insistem em procurar, o que não se encontra em folhas de papel impressas. Desenham círculos a caneta vermelha, em volta de várias opções numa mesma folha. Mas o amor não é uma opção, porque não se escolhe, não é dado a escolher. O amor encontra-nos.
Mas as pessoas querem fingir que correm atrás do amor em páginas a preto e branco, só para dizer que sim, que correm, que procuram. Por dentro gritam que apenas não querem sentir-se sós. Não procuram amor, porque o amor não se procura, porque o amor não é assim que se encontra, porque o amor é a verdade de toda a mentira e os classificados são conjuntos de frases feitas.
Ninguém vai escrever no espaço " Encontre a sua cara-metade " da revista cor-de-rosa mais vendida, que é feio, carente, possessivo, ciumento, dramático, que quer alguém que o ame para sempre e que continue com ele apesar de tudo e para além de todos. Porque todas as pessoas sabem que frases não-feitas (sejamos realistas) não funcionam.
Actualmente, ninguém tem medo de perder alguém em especial, por uma razão especial, porque sentiria falta desse alguém especial. Isto, porque já ninguém é especial para alguém. Os homens são todos iguais para as mulheres. As mulheres são todas iguais para os homens. Por mais relações diferentes, com pessoas diferentes, em momentos diferentes, que uma pessoa (seja homem, seja mulher) tenha ao longo da sua vida, vão ser sempre todas iguais. As pessoas repetem-se porque à partida, as pessoas sempre que partem para uma nova relação, não fazem mais nada do que procurar o que não existia na relação anterior. Descobrem que ali também não existe, então partem para outra - e assim sucessivamente.
São todo um conjunto de sucessões, de substituições, de procura de algo que está dentro de nós à muito tempo. Mas dentro de nós dói mais procurar, do que dentro dos outros, ou dentro de algo que (julgamos que) criamos com os outros.
Vivemos a vida em repeat mode.
Carreguem no play e deixem a cassete rodar: mulher com vazio procura homem com coração.
Stop. Encontrei um homem só para mim! - e ofereceu-me um coração.
Subscrever:
Mensagens (Atom)