"A cidade está deserta.
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte.
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura.
Ora amarga,ora doce.
Para nos lembrar que o amor é uma doença.
Quando nele julgamos ver a nossa cura. "
Ornatos Violeta
Escrevemos nomes nos passeios para toda a gente ver. Nas estradas, nas casas, nas ruas. Escrevemos o quanto amamos, o quanto estamos arrependidos e o quanto queremos o outro de volta. O seu nome espalhado pela cidade, ao abrigo dos milhares de pés que caminham sobre o chão, dos milhares de corpos que se roçam nas paredes.
Nós, sem rumo, que perdemos o chão, que abandonámos os escombros de um quarto vazio, deitamos o nosso coração ao largo, espalhamos o nosso amor pelos cantos da cidade na esperança de que vá ao encontro de quem perdemos. Para quem passa e vê as palavras escritas a tinta preta, o nome de alguém espalhado ao vento, dá-se ao trabalho de ler para depois poder chamar de ridículo. E tem razão, é.
Nesta demonstração escrita, reside o mais ridículo dos amores, o amor lamechas, enjoativo, que nos dá voltas ao estômago e nos dá sinal ao cérebro como sendo um amor errado. E é errado.
O amor para ser verdadeiro, tem de ser nosso, só nosso. E esse amor nosso, o mais puro dos amores, é o amor sujo, rasgado, dorido e negro, o amor que não contamos a ninguém, que não espalhamos pela cidade, o mais puro dos amores - escondemos.
Ridicularizamos o maior sentimento do mundo quando o espalhamos pela cidade em estúpidas demonstrações de amor, esse amor já não é nosso - passou a ser de toda a gente. E provavelmente, toda a gente o viu, por aí, espalhado por todo o lado, partilhado com o mundo, menos a pessoa a quem o dedicámos.
Não deites o amor ao mundo - se o amor é teu, agarra-o.
2 comentários:
Até certo ponto, é bom mostrar-mos o nosso amor ao mundo - mas partilhá-lo não, isso nunca. E há, e vão sempre haver, coisas que apenas nós, e a outra pessoa, e o nosso amor poderão partilhar e nunca demonstrar. Porque há coisas que só nós sabemos e que mais ninguém precisa de saber. Porque há coisas que só nós sentimos e que mais ninguém precisa de sentir.
<3
Gostei muito Joana, parabéns :) ***
P.s.: Quando vamos ao bairro :P?
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