O mais poético seria dizer que não precisamos de escrever sobre ela, mas sim de senti-la.
Eu sinto-a e por isso mesmo, é que me apetece escrever sobre ela, hoje.
É mais uma das armadilhas do amor, esse maldito que nos afunda em tudo o que este mundo tem de pior, para chegarmos ao que de melhor nos pode dar.
E tal como o amor, não conseguimos descreve-la, nem em muitas nem em poucas palavras, apenas em nenhumas. Porque não há abecedário que chegue, para escrever um texto com palavras suficientes sobre a saudade. Não há.
É fantástico, como uma pessoa pode entrar na nossa vida para nunca mais sair. Pode limitar-se a empurrar a nossa parede da solidão mais e mais para dentro, e nós ficamos ali. Vê-mo-la fazer isso, e deixamos. Deixamos, porque sabe bem. Masturba-nos o ego, ter alguém que nos faça não estar sozinhos. E continua a saber bem, até que nos apercebemos que a parede foi empurrada até ao limite da saudade, a parede está a cinco centímetros do coração e são esses cinco centímetros de solidão que criam a saudade. A parede nunca se parte, só chega a um limite. Chega a um limite, do qual temos tanto medo, tanto medo que nos deixamos ser empurrados para dentro ao deixarmos que outro alguém nos empurre. Quando a parede da solidão chega ao seu limite, chega bem perto do coração, a isso chama-se amor.
É fantástico, como uma pessoa pode entrar na nossa vida e nos mostrar a saudade. Porque, só quando sentimos saudade - amamos.
O que causa saudade, é a diferença. Quem causa saudade, não é quem entra na nossa vida sem sequer dar-mos conta, não é quem fica por ficar, por conveniência ou porque sim, não é quem se vai embora sem se despedir, quem entra e sai, quem nem sequer nos conhece, quem não se dá a conhecer. Quem causa saudade, é quem marca a diferença. Quem pede para entrar, quem fica porque quer ficar, quem nunca sai.
É essa pessoa, que faz os ponteiros do relógio não andarem tão depressa, que alonga a distância entre os corpos, que faz o coração querer saltar pela boca, que rouba o ar aos pulmões e faz doer a garganta de tanto querer chamar pelo seu nome sem poder. Parece doloroso, e é. Dói, dói muito. Mas, se não doesse não seria diferente, não faria sentido.
E por mais lento que o relógio seja, ou por mais rápido.
E por mais longe que se esteja, ou por mais perto.
E por mais difícil que seja, deixar alguém entrar na nossa vida e deixar um vazio, sem sequer sair dela.
Haverá sempre alguém que vire a nossa vida ao contrário.
Sim, a saudade é quando queremos a nossa vida de volta - ao contrário.
Hoje a saudade perguntou por ti, eu respondi: solidão.